Beatriz Matos Nunes, radiooncologista Fundação Champalimaud
Em todo o mundo há cada vez mais pessoas que sobrevivem ao cancro, graças à radioterapia. A base para este tratamento inovador foi lançada pela cientista polaca, Marie Curie, há mais de cem anos, com a descoberta do rádio.
Técnica minimamente invasiva, a radioterapia pode ser utilizada isoladamente ou em conjunto com outras terapêuticas e está indicada para cerca de metade dos doentes com cancro.
A radiooncologista Beatriz Matos Nunes, da Fundação Champalimaud, explica em que consiste este tratamento, a que casos se aplica e desmonta alguns dos mitos que lhe estão associados.
Como funciona a radioterapia?
A radioterapia consiste num tratamento focal, com radiação ionizante, que pode ser administrado através de um equipamento externo (de seu nome acelerador linear) ou através de fontes radioativas, fontes essas que estarão em contacto direto com o tumor/leito tumoral. A radiação penetra nas células malignas e destrói a sua capacidade de replicação, o que conduz consequentemente à destruição da doença neoplásica.
Em que casos é recomendada?
A radioterapia é utilizada no tratamento de tumores malignos e menos frequentemente de tumores benignos (como por exemplo meningiomas, quelóides, neurinomas do acústico).
No tratamento dos tumores malignos, pode ser utilizada como tratamento único (monoterapia), em complementaridade após a cirurgia (tratamento adjuvante), ou em combinação com terapêuticas sistémicas.
É uma arma de tratamento utilizada na fase de doença localizada, permitindo a eliminação da mesma, ou como abordagem paliativa de forma a controlar sintomas, como é o caso da doença avançada.
Quais são os seus maiores benefícios?
Tratar de forma eficaz a doença neoplásica sem expor o doente aos riscos/complicações de uma cirurgia, bem como aceder a localizações anatómicas de difícil abordagem cirúrgica.
Pode-se dizer que a radioterapia cura?
Em oncologia, um paciente com um diagnóstico de malignidade deve ser encarado como um paciente crónico, que precisa de ser vigiado de forma mais ou menos apertada, mas para o resto da sua vida. É verdade que a radioterapia pode permitir a erradicação da doença neoplásica, porém não podemos abdicar da vigilância pós terapêutica.
Desconstruir mitos
Beatriz Matos Nunes desmonta ainda alguns mitos relacionados com a radioterapia, como:
A radioterapia é menos eficaz do que uma cirurgia
A radioterapia pode ser igualmente válida, ou mesmo superior, quando comparada com a cirurgia, de acordo com a patologia em questão.
Ao ser submetido a radioterapia, o doente fica radioativo
Aquando da radioterapia externa, o paciente não fica radioativo, podendo contactar com crianças e grávidas logo após o tratamento.
Os efeitos adversos da radioterapia estendem-se a todo o organismo
Os efeitos adversos provocados pela radioterapia são localizados à zona do tratamento.
As sessões de radioterapia são iguais para todos os casos
O número de sessões varia com o tumor primário, localização e dimensão da doença, estado geral do doente, ou seja, para cada doente teremos uma proposta de tratamento individualizada.
Os resultados de um estudo europeu elaborado pela Sociedade Europeia de Radioterapia e Oncologia relativos a 2012 e divulgados recentemente indicam que 41,2% dos doentes com cancro em Portugal não receberam a radioterapia necessária. Estima ainda que, até 2025, a necessidade de recurso à radioterapia aumente cerca de 16%.
Saiba mais sobre a descoberta que serviu de base à radioterapia aqui.
Tenho Cancro. E depois? é um projeto editorial da SIC Notícias com o apoio da Médis.
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