Nuno Antunes Bonito, assistente hospitalar
As normas estabelecidas até ao momento reportam-se à população em geral e não especificamente aos doentes oncológicos. É responsabilidade das instituições ajustá-las à tipologia dos doentes que tratam.
Como oncologista, tenho de encontrar um equilíbrio entre subtratar, resultando em mais mortes pela doença a médio e longo prazo, e aumentar as mortes por Covid-19, numa população imunocomprometida, ao dar continuidade aos tratamentos. Teremos de tomar decisões difíceis. Os sinais e sintomas nestes doentes são muitas vezes atípicos não mimetizando o padrão da população em geral o que aumenta a dificuldade em enquadrá-los nos padrões já estabelecidos.
As evidências sugerem que as pessoas com cancro têm um risco significativamente maior de desenvolver infeções graves, principalmente se tiverem realizado recentemente quimioterapia ou cirurgia. Mas, o doente oncológico necessita de dar continuidade aos seus tratamentos.
É urgente que as instituições criem um circuito preferencial para os doentes oncológicos, privilegiando as suas especificidades. É urgente criar um fluxograma consistente para o doente oncológico assintomático e para o doente com suspeita de infeção que envolva as várias valências, desde o diagnóstico ao tratamento, e que associadamente contemple a segurança do doente e profissionais envolvidos.
No meu entendimento, o doente oncológico em tratamento sistémico ativo deve ser testado de forma sistemática independentemente do intuito do tratamento.
Temo que num contexto de necessidade de seleção de doentes para admissão em unidade de cuidados intensivos, o doente oncológico possa ser preterido. De uma forma concertada e multidisciplinar devemos tomar medidas que minimizem o risco de alcançarmos este patamar de gravidade.
Tenho Cancro. E depois? é um projeto editorial da SIC Notícias com o apoio da Médis.
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