“Pan-Cancer Analysis of Whole Genomes”
De que forma é que as várias formas de cancro se desenvolvem no organismo humano? Para dar resposta a esta questão foi desenvolvido o estudo internacional “Pan-Cancer Analysis of Whole Genomes” (PCAWG), também conhecido como “Pan-Cancer Project”, que, ao longo de dez anos, contou com a participação de 1300 cientistas de 37 países para analisar mais de 2.600 genomas de 38 tipos diferentes de tumores. Os resultados foram publicados no início deste mês de fevereiro na revista científica “Nature”.
"Entre as principais conclusões do trabalho está a descoberta da enorme variedade de genomas de cancro”, revelou Peter Campbell, um dos responsáveis do projeto.
Nesta investigação foram identificados mais de 80 processos que estão na origem das mutações genéticas do cancro, algumas relacionadas com a idade, outras herdadas ou ligadas ao estilo de vida, como por exemplo, o consumo de tabaco.
Os estudos revelaram que alguns tipos de cancro podem começar a desenvolver-se décadas antes do diagnóstico, permitindo que se comecem a tratar muito antes da doença se desenvolver.
Os cientistas descobriram também que os cancros que surgem em diversas partes do corpo são muito mais parecidos do que o que se pensava. Há tipos de cancro de mama e da próstata “em que as mutações são semelhantes”, podendo, por isso, os doentes “beneficiar do mesmo tipo de tratamento", refere Joachim Weischenfeldt, coautor e professor associado da Universidade de Copenhaga.
Dados recolhidos na mesma investigação revelam ainda que o conhecimento dos padrões de mutações e dos sítios onde ocorrem pode contribuir para identificar entre 1% e 5% dos cancros que não são detetados através de diagnósticos regulares.
Mutações que podem originar cancro
Identificar as mutações nocivas durante a multiplicação das células, vai contribuir de forma importante para melhor compreender e combater o cancro.
Note-se que cada pessoa é composta por um conjunto de 30 biliões de células que passam por processos genéticos e se multiplicam. Cada vez que se dividem, o genoma completo, composto por 3.000 milhões de letras, deve ser copiado e nesse processo, podem ocorrer erros, as mutações. A grande maioria é inofensiva, mas uma pequena parte pode desencadear o cancro.
"Com o conhecimento que adquirimos sobre as origens e a evolução dos tumores, podemos desenvolver novas ferramentas e terapias para detetar o cancro mais cedo, desenvolver tratamentos mais direcionadas e curar os pacientes com sucesso", afirma Lincoln Stein, um dos responsáveis do projeto. Estes consideram também que os resultados da investigação contribuem de forma importante para a medicina de precisão em que os doentes recebem determinados tratamentos consoante os seus perfis genéticos. “Mostramos como fazer grandes estudos genómicos do cancro de maneira sustentável. Agora a ideia é fazer o mesmo em hospitais e incluir dados clínicos de cada paciente, principalmente o histórico do tratamento, para que talvez um dia possamos conhecer todas as mutações causais do cancro”, explica Alfonso Valência, chefe de biocomputação do Centro de Supercomputação de Barcelona e um dos investigadores do Pan-Cancer.
Tenho Cancro. E depois? é um projeto editorial da SIC Notícias com o apoio da Médis.
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